Não quer ser chamado de herói, mas é assim que a população da freguesia de Loivos do Monte, no concelho de Baião, o vê e foi por ele que se juntou no centro da aldeia para agradecer e prestar homenagem.
Luís Miranda, um filho da terra, pegou no seu trator, que tem uma cisterna, e combateu as chamas que teimavam em rodear a aldeia, salvando habitações, animais e bens.
Não satisfeito com o que conseguiu, Luís disse ao nossoterritório.pt “que seria um herói se tivesse conseguido travar as chamas na serra”, uma humildade de quem tem “bom coração”, como destacou Luís Pereira, presidente da Junta de Freguesia de Loivos do Monte, que também se juntou à homenagem.
Começa assim esta história, pelo herói que não quer ser herói, mas que, na noite de segunda para terça-feira, vestiu uma capa invisível, subiu a Serra da Aboboreira, salvou os seus animais e passou a noite a socorrer a população. Não esteve sozinho, houve muitas pessoas a ajudar, mas só o Luís tinha a abençoada cisterna e um trator “que nunca deixou de trabalhar”, contou.
Quase sem voz e com “as pestanas chamuscadas pelo fogo”, como o próprio evidenciou, Luís não escondeu o medo de perder a vida no incêndio, tendo muitas vezes sido chamado aos gritos para sair de onde estava. Continuou e debateu-se para travar um inimigo que trazia com ele a sede de destruição.
“Foram horas muito difíceis, momentos como nunca se viram. Tivemos um herói em Loivos do Monte e as pessoas deviam dar valor a isso, não só agora, mas sempre, foi a única pessoa que ajudou, que colocou a cisterna dele à disposição e trabalhou a noite inteira”, disse Liseta Correia.
No centro da freguesia juntaram-se hoje muitas pessoas e não faltou um cartaz de agradecimento ao Luís feito pelas crianças. A cisterna estava lá e estava todo o reconhecimento de um povo.
Cláudia Madureira também acompanhou os atos do Luís Miranda e exaltou “a coragem do Luís, que com a sua cisterna combateu as chamas, não deixando arder casas e bens”. “O povo uniu-se e ajudou, não havia meios”, completou.
Maria Guedes também esteve ajudar e, juntamente com vizinhos, foi a locais onde a cisterna do Luís não chegava. “O Luís andou sempre com a água a ajudar, foi muito importante para a desgraça não ter sido maior”, salientou.
O Luís fez parar a sua empresa de construção e levou para o combate o maior número de pessoas que podia, mas era uma luta desigual, “o vento era imenso, era frações de segundos, uma correria maluca”, lembra o jovem.
Joaquim Miranda é tio de Luís e relatou ao nossoterritório.pt que “se não fosse o sobrinho mais de 10 casa tinham ardido”.
“Não é por ele ser meu sobrinho, mas a verdade é que ele tem todo o mérito, está de parabéns pelo povo da freguesia e não só, porque ainda ontem esteve a ajudar uma propriedade com caudelaria em Queimada, São João de Ovil. Se não fosse o Luís a desgraça teria sido muito maior em Loivos do Monte”, concluiu.
O Luís não se preocupou só com Loivos do Monte e colocou à disposição dos bombeiros um depósito com 120 mil litros de água.
A noite foi longa e Luís teve muitas vezes de buzinar no seu trator para avisar as pessoas que ia passar, dado que o fumo tapava a visão e fazia arder os olhos.
PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA PEDE CELERIDADE NA ATRIBUIÇÃO DE APOIOS AOS AGRICULTORES
Luís Pereira, presidente da Junta de Freguesia de Loivos do Monte, diz que a freguesia viveu momentos de terror. “Foi o acontecimento mais trágico na freguesia de que há memória de toda a população”, vincou.
“Infelizmente, por todos os incêndios que assolam o país, não conseguimos ter a proteção que poderíamos e devíamos ter tido na nossa freguesia, mas graças ao Luís e às muitas pessoas que ajudaram, que tentaram salvaguardar os seus bens e os bens das outras pessoas, a tragédia não foi pior”, sublinhou, evidenciando: “na coroa do salvamento da população surge o Luís, que foi incansável, foi sobre-humano”.
O cansaço e o desalento foi surgindo durante o combate, feito pela população, sem os meios nem a proteção necessária numa situação assim.
O presidente da junta confessa que “houve alturas em que perdeu o controlo do que é ser consciente para tentar acalmar as pessoas”.
“Devemos ser os primeiros a fazê-lo. A junta de freguesia está completamente solitária com as despesas do Luís e vamos fazer de tudo para que possa ser ressarcido. Sei que isso não quer dizer nada e ele não o fez a pensar nisso, mas é nosso dever, dar proteção e garantir que os nossos jovens, que continuam na freguesia a lutar pelos nossos territórios e a ocupar as nossas florestas, saibam que podem continuar cá, porque têm esse apoio”.
No balanço do incêndio, Luís Pereira lamenta a morte de cerca de 15 ovelhas, dois ou três cabritos, uma vaca e uma vitela, no que diz respeito a animais. Foram destruídas pelas chamas cerca de 20 cortes e arrumos, anexos de apoio à agricultura.
O autarca falou, ainda, das “muitas perdas de água no monte”, que os privados estão a tentar restabelecer.
“Mas é uma perda que se irá refletir por estes dias. Também na parte dos pastos há problemas, o animais vão precisar de alimento e é muito importante que nós junta de freguesia, a câmara municipal e o Governo agilizem o apoio a estes agricultores para poderem dar continuidade à sua atividade económica”.



