O concelho de Baião, o mais verde do distrito do Porto, viveu dias difíceis, com vários incêndios que consumiram milhares de hectares de floresta, uma dezena de habitações, um armazém de construção, alfaias agrícolas, veículos e muitas áreas de cultura de vinha e frutos.
Numa volta pelo concelho, entrando pela estrada nacional 101 em direção à vila de Baião, o cenário é desolador. São 10 quilómetros de área queimada, pela EN 321, que dá acesso à sede do concelho. Gestaçô e Loivos do Monte são logo as primeiras freguesias afetadas.
Na entrada para Loivos do Monte, onde ainda há fumo a sair do chão, saltam à vista os pinheiros, que resistiram ao fogo, proporcionado uma imagem de esperança. Mais à frente, na zona de Queimada, cujo o nome se repete por estes dias, a vista para a Serra de Matos é desoladora. A aldeia de Outoreça, em Campelo e Ovil, ficou rodeada pelas chamas e o negro cenário só termina junto ao Carvalhal de Reixela, onde o fogo perde contra a natureza singela.
Continuando pelo concelho, quase no centro da vila, as chamas da Serra da Aboboreira chegaram à estrada, mostrando um pouco do que resta da serra.
A Serra da Aboboreira, que conta com 20.365 hectares de Paisagem Protegida Regional, distribuídos pelos municípios de Amarante, Baião e Marco de Canaveses, está pintada de negro.
O fogo consumiu uma das mais belas áreas florestais daqueles concelhos, com um grande potencial turístico, capaz de alavancar a economia da região. Serão, com certeza, anos perdidos até que tudo volte a florescer.
Em direção ao Gove, depois de passar a vila de Baião, onde o dia a dia é retomado, as escolas abrem e os serviços voltam a receber clientes, são bem visíveis as marcas das chamas, que em Pinheiro estiveram próximas das casas.
O caminho até Quintela, já no Gove, é acompanhado por muito fumo e por relatos de verdadeiro horror da população que por ali habita, falando em chamas com vários metros de altura, que tudo engoliam.
Não arderam habitações em Quintela, mas mais à frente, na Portela do Gove, a realidade é diferente. Duas casas foram consumidas pelas chamas, não estariam habitadas, mas os danos são consideráveis, restando apenas paredes.
Chegando a Ancede e Ribadouro, logo em Eiriz, é bem visível o rasto do fogo, que andou perto das bombas, de várias habitações, algumas arderam, e da Escola Básica de Eiriz. Hoje os alunos também já regressaram à escola.
Descendo em direção ao centro da freguesia, a área queimada começa a definir-se e, segundo o autarca daquela freguesia, cerca de 80% de área terá ardido.
O fogo não poupou floresta, não poupou empresas, nem poupou culturas, com vinhas a serem devoras pelas chamas, como aconteceu com as vinhas do Mosteiro de Ancede, onde o verde deu lugar ao queimado.
De dia e de noite, bombeiros, autoridades policiais, população e município não pouparam esforços para tentar debelar um inimigo atroz, que não deu tréguas e que contou com a “ajuda” do vento para percorrer caminho.
Na Serra do Marão, o cenário preto do mato queimado, condiz com o cenário de grande parte do concelho. O incêndio ainda obrigou à retirada de algumas pessoas de Mafómedes, uma das mais belas aldeias de xisto do concelho, de Gavinho e Vilarelho.
Não houve danos físicos nem materiais, mas os bombeiros, os do concelho, de concelhos vizinhos e do distrito de Lisboa, deixaram de lado o cansaço, a fadiga e debateram-se para vencer o fogo. Saíram vencedores, mas com o corpo e a alma a necessitar de descanso.
Muitos deles estão de volta ao quartel, porque o serviço não para. Estão todos, com certeza, agradecidos pelo apoio que lhes foi dado nestes dias, com a população a voltar a mostrar o lado generoso e a encher os quarteis de bens alimentares.
Hoje, regressa-se a uma normalidade anormal, com os vestígios do fogo muito presentes, com fumo ainda a pairar no ar e com os raios de sol a iluminar o que resta de verde.



