Maria Eduarda Martins e Wania Qadree são amigas que o destino uniu, não fosse uma portuguesa e a outra paquistanesa, e que juntou para vencer o concurso nacional “Ser Escritor é Cool”, organizado pela Rede de Bibliotecas Escolares.
Ambas alunas do quarto ano da Escola Básica de Eiriz, no concelho de Baião, foi ali que se conheceram há cerca de dois anos e não mais se separaram.
Chegada de um país distante e sem conhecer ninguém, nem a língua portuguesa, Wania encontrou em Maria Eduarda, natural do concelho de Baião, não só uma intérprete, porque Eduarda sabe falar inglês, mas “uma amiga para a vida”.
O nossoterritório.pt esteve à conversa com as amigas, na Biblioteca da Escola Básica de Eiriz, onde encontram inspiração para escrever os seus textos e onde a língua já não é mais um entrave para Wania, de 11 anos.
Um pouco envergonhadas no início, as amigas depressa deixaram de lado a timidez e contaram à nossa reportagem como receberam o prémio, que “ajudou a fortalecer ainda mais a amizade”.
Falar de saudade, numa carta onde Maria Eduarda e Wania contaram uma história de aventuras, que muito bem pode ser a sua, valeu-lhes o primeiro prémio do segundo desafio do concurso, mas vale muito mais o que nutrem uma pela outra no dia a dia.
Maria Eduarda foi perentória quando disse que “ninguém merece ser desrespeitado” e por isso “não pensou duas vezes quando teve oportunidade de ajudar Wania”.
“Também a ajudei com a professora, que não sabia falar muito bem inglês. Mas não fui só eu, também a Mariana, a Mafalda e o nosso professor tirular, que apoiaram a Wania”, conta Maria Eduarda, que garante que, mesmo quando estão separadas, comunicam por vídeo chamada.
A saudade, uma palavra tão portuguesa, já foi sentida no coração das amigas, quando Wania esteve fora. Mas a distância foi colmatada através dos pais de ambas, que faziam a ponte para as meninas se falarem.
À Wania, Maria Eduarda já deu a conhecer um pouco de Baião, foi com a amiga portuguesa que Wania entrou pela primeira vez numa igreja, a da Mosteiro de Ancede, e Maria Eduarda até gostava de conhecer o Paquistão, porque “gosta de conhecer novas culturas”, revelou.
Enquanto a viagem não se proporciona, as amigas dão a conhecer um pouco das suas culturais uma à outra. As brincadeiras dividem-se entre as portuguesas e as paquistanesas e Maria Eduarda já sabe algumas palavras na língua da amiga.
“Gosto muito de estar em Baião, de ir ao café, tem sido muito bom. Também ensino algumas coisas à Eduarda”, contou Wania.

Ultrapassadas as fronteiras, ambas viram no desafio da coordenadora da Biblioteca Escolar, do Agrupamento de Escolas de Eiriz, Baião, Florbela Rocha, uma oportunidade para mostrar à comunidade escolar que a língua portuguesa é acessível a todos e Camões, que é o tema do concurso, pode ser inspiração para todos.
“A criatividade foi além e levou as alunas a escreverem um misterioso livro intitulado Wa.Lusí.Edu, sonhando com uma futura e grandiosa fama, à altura da icónica obra portuguesa “Os Lusíadas”. Na carta, as meninas narram conquistas de ilhas, entre as quais se destaca a encantadora “Ilha do Amor”, onde duendes preparam uma celebração mágica para o Dia de São Valentim, uma cena inspirada nas apaixonadas palavras de amor dedicadas por Camões”, refere Florbela Rocha.
As duas amigas estão já a preparar a participação no terceiro desafio do concurso, que garantem “não o fazer pelos prémios, mas sim pela experiência”.
“O facto de conseguirem ganhar um prémio é muito importante para a escola, mas não tão importante com a experiência que partilham juntas”, disse a Florbela Rocha, vincando que “a nacionalidade não é entrave para o que quer que seja. Qualquer pessoa pode participar nestes concursos e a Wania é um exemplo de superação, que vai muito bem na questão da língua portuguesa não materna”.
A finalizar, Maria Eduarda confessou, “apesar de não saber se a amizade ia dar resultado, que se focou em tratá-la bem”.
“Eu não gostava que ninguém a tratasse mal porque, por exemplo, se eu fosse para o país dela também não gostava que me tratassem mal e acho que ninguém deve merecer o desrespeito dos outros”, salientou a pequena Eduarda de apenas nove anos.
Texto com que venceram o desafio
Amiga Eduarda,
Espero que te encontres bem de saúde. Eu encontro-me a viver em Londres e escrevo-te esta carta, porque nunca pensei que a saudade conseguisse atravessar a distância que nos separa.
Desde que viajei para Londres não parei de pensar nas aventuras que nós vivemos em Portugal.
Lembraste daquele dia em que corremos à chuva? Estava a chover tanto que parecia o naufrágio, como aquele onde o Camões salvou o livro: “Os Lusíadas”. Por falar na obra “Os Lusíadas”, o que achas de fazermos um livro, onde todos os dias escrevemos as nossas aventuras e depois partilharmos e darmos o nome: wa.Lusí.Edu, e quem sabe se um dia o livro não fica também famoso?
Cá em Londres já tenho muitas histórias para contar e muitas aventuras para escrever no nosso livro.
Mas não te esqueça, é segredo, o nosso livro só fica entre nós.
E tu? Que aventuras contas? Eu estou ansiosa e espero uma visita tua, exploraríamos e teríamos muitas aventuras em Londres.
Eu tive um sonho que nos levava para o mundo dos doces, só que nós éramos os únicos humanos. E nos meus sonhos esse mundo era assim: O chão era cor-de-rosa, tinha guardas a proteger o castelo de chocolate, como o castelo Buckingham de Inglaterra, tinha gelados de vários sabores, até tinha chocolate de melancia e muitas mais coisas…
Sabes quais foram as ilhas que descobri? A primeira foi a Ilha do Sol, e agora vou descrevê-la: lá nunca ficava escuro, tinha praias bonitas e tinha flores de todas as cores. E a segunda ilha era a ilha do amor, que tinha duendes a preparar a festa de S. Valentim e também tinha o Big Ben do amor, que foi a minha parte preferida.
Espero que tenhas gostado de ler a minha carta, gostaria de te ver no próximo ano e aproveitarmos para completar o nosso livro Wa.Lusí.Edu, Chiuu…. É segredo!
Beijinhos!
Maria Eduarda Martins e Wania Qadree | 4.ºA
Agrupamento de Escolas de Eiriz – Baião