As eleições autárquicas do passado domingo marcaram um ponto de viragem em Baião. A coligação PSD/CDS-PP conquistou a Câmara Municipal e venceu em número de votos para a Assembleia Municipal, pondo termo a um ciclo político de 20 anos de governação socialista que se iniciou com o José Luís Carneiro e foi consolidado ao longo da última década pelo Professor Paulo Pereira.
A vitória de Ana Raquel Azevedo simboliza não só uma mudança na liderança do município, mas o encerramento de uma era política que marcou de forma muito clara o concelho ao longo das duas últimas décadas. Foi um ciclo de grandes investimentos e de profunda transformação do território e que deixou marcas estruturais à vista de todos. É importante ser intelectualmente honesto, o concelho de Baião de 2025 não é definitivamente o concelho de Baião de 2005. Os indicadores são claros, a rede de saneamento e abastecimento de água foi profundamente alargada, a rede viária teve melhorias, os níveis de educação e a qualificação melhoraram, a qualidade dos equipamentos públicos evoluiu e o concelho ganhou visibilidade nacional e internacional. Negar esta evolução é simplesmente desonesto!
Contudo, como todos os ciclos políticos, também este teve o seu fim. O PS começou a evidenciar um normal desgaste e uma clara falta de renovação, mantendo em lugares centrais muitos dos mesmos protagonistas de há 20 anos, num contexto em que o mundo e, também, Baião mudaram profundamente. Um segundo erro político relevante, a meu ver, foi a subvalorização de uma candidata jovem e mulher, que monopolizou o voto jovem. Ao não o fazer uma renovação mais ousada o PS fechou-se sobre si próprio, enquanto a oposição apresentou uma alternativa com grande capacidade mobilizadora.
Um elemento adicional e muitas vezes subestimado foi o papel das redes sociais. De facto, a coligação PSD/CDS soube trabalhar a comunicação digital de forma mais moderna, segmentada e eficaz, aproveitando melhor as plataformas para chegar a públicos distintos e reforçar a perceção de necessidade de mudança. Em contrapartida, a máquina socialista mostrou-se menos adaptada às dinâmicas atuais de comunicação política, algo decisivo num eleitorado cada vez mais digital.
A coligação PSD/CDS obteve 51,68 % dos votos para a Câmara Municipal, contra os 40,67 % do PS, conquistou ainda quatro juntas de freguesia num total de dez e venceu em votos para a Assembleia Municipal (PSD 46,59 % / PS 44,28 %). No entanto, o PSD não terá a vida fácil, pois com apenas quatro juntas, não dispõe de maioria na Assembleia Municipal, e mesmo coligado com o Chega fica a cerca de cinco mandatos da maioria absoluta. Neste contexto, Armando Fonseca poderá assumir um papel particularmente relevante como presidente da Assembleia Municipal. Durante o seu mandato destacou-se pela isenção, responsabilidade e defesa dos interesses de Baião acima das lógicas partidárias, sendo hoje uma das personalidades mais bem preparadas e qualificadas para os destinos futuros do PS Baião. A sua postura poderá ser determinante para garantir o equilíbrio institucional necessário no futuro.
Um outro ponto a ter em conta foi que durante a campanha, a coligação PSD/CDS colocou com insistência temas estruturais como o dinamismo empresarial, a fixação de população e o combate ao despovoamento, problemas que não são apenas de Baião, mas de todo o mundo rural português e europeu. Esses desafios exigem estratégia, inovação e políticas sustentadas, não se resolvem com slogans. A nova liderança autárquica terá, nos próximos quatro anos, de apresentar soluções concretas ou pelo menos lançar as bases de políticas credíveis nestas áreas, sob pena de defraudar expectativas e perder rapidamente o capital político conquistado. Em 2029, os eleitores vão julgar não só a mudança, mas os resultados da mesma.
A todos os que participaram nesta eleição, candidatos e eleitores, um cumprimento democrático. E Viva Baião!
Diogo Miguel Pinto



