Um ano após os devastadores incêndios que assolaram o concelho de Baião, em setembro de 2024, Manuel Capela, que teve um prejuízo de cerca 90 mil euros na sua exploração agrícola, continua sem receber qualquer apoio do Governo.
Foram três hectares de produção de morangos, mirtilos e limão levados pelo fogo, que não poupou a exploração, num dia “em que nada fazia prever semelhante tragédia”, relatou, na altura, Manuel Capela.
Passado um ano, o nossoterritório.pt foi ao encontro do jovem agricultor, onde nos terrenos ainda são visíveis as marcas do fogo, que devastou a propriedade.
Manuel leva-nos pelo terreno, olhando as suas terras com esperança de voltar a ter a produção de antes, mas “com desanimo pela falta de apoios”.
“O Governo fala em apoiar quem perdeu bens nos incêndios de 2025, mas está esquecido de quem perdeu tudo em 2024 e ainda não teve qualquer apoio”, desabafou o jovem, que espera desde outubro de 2024 pelos ansiados apoios.
“Submetemos uma candidatura à medida 6.2.2. para repor o potencial produtivo. Foi a medida criada para quem sofreu perdas derivadas aos incêndios de setembro”, contou Manuel Capela, avançando que “numa primeira análise recebeu um parecer com redução muito significativa no valor”.
“O valor que estava contemplado era cerca de 60.000 euros, mas só veio favorável 7.000, porque o que lá vinha escrito em relatório era que a única coisa que tinha ardido era a estufa”, acrescentou.
Manuel Capela lamenta a primeira análise à candidatura, que de imediato contestou, sobretudo “porque os peritos foram várias vezes à propriedade, quando ainda era bem visível a destruição, com limoeiros e mirtilos que arderam”.


O jovem agricultor continua a pagar a prestação do empréstimo ao banco, feito para a exploração, localizada em Santa Cruz do Douro, numa propriedade que foi herança dos pais.
Com a vida “num impasse”, Manuel Capela e a esposa têm feito de tudo para reerguer o sonho, tendo já recuperado a parte da exploração que não ardeu, sobretudo limoeiros e parte da produção de mirtilos.
Mas ainda falta muito para ter o que tinham, numa exploração “que começava a entrar em velocidade cruzeiro, com a colheira de 150 quilogramas de morangos por semana”, recorda Manuel Capela.
O jovem “fez-se à vida” e tem conciliado o trabalho como bombeiro profissional com a atividade de operador de TVDE, “que ajuda a pagar a prestação”, garante.
O terreno, que estava dividido em quatro setores, tem vindo a ser preparado para continuar a plantação. Depois do incêndio, foram retirados os plásticos da rega e das estufas, destruídos pelo fogo, e foi semeada aveia, para evitar que as primeiras chuvas varressem a terra e para fixar alguns nutrientes, importantes para as culturas.

Manuel Capela tem limpo o mato, que este ano teima em crescer rapidamente, “tudo para que, assim que seja aprovada a candidatura, se possa avançar com a plantação”, salienta.
O jovem agricultor não quer voltar a passar pela ameaça de perder tudo e tem já pensada, através das verbas do Governo ou com meios próprios, a criação de uma bordadura em volta do seu terreno com espécies resistentes ao fogo, como carvalhos.
“Será uma forma de colmatar a falta de limpeza de alguns terrenos circundantes ao meu e, também, de poder ir trabalhar com um mínimo de segurança, sem estar com o coração nas mãos, com receito de voltar a ficar sem nada outra vez e de ter em risco a minha casa e os meus animais”, sublinhou.
Manuel Capela avançou que pode estar em cima da mesa a possibilidade de se candidatar a uma nova linha aberta pelo Governo, no âmbito do novo quadro comunitário, para os prejuízos dos incêndios de 2025, “mas ainda sem certezas de nada”.
Certeza tem o jovem de que, se os apoios a que se candidatou vierem, vai ter até 31 de dezembro para fazer tudo, “o que é praticamente impossível”, garante.
“É uma área muito grande e algumas plantações são feitas em fevereiro e março, na altura primaveril”, disse, lamentado a “muita burocracia e a muita papelada pedida por pessoas que não conhecem a realidade local”.