Junto à lareira dos avós maternos, Selena Carvalho, com apenas seis anos, começou a descobrir o gosto pelas linhas, que lhe foi passado pela avó, que fazia meias em tricô.
As meias eram feitas com seis agulhas, algo que para Selena era “um bicho de sete cabeças”, mas que não a impediu de aprender a arte com duas agulhas, ensinada pela avó.
Entre tricô e ponto de cruz, Selena Carvalho sempre teve gosto pelas linhas, mas o croché “é que a apaixona” e a leva a fazer trabalhos únicos.
“Lembro-me na minha infância de fazer saboneteiras, que eram dois bocadinhos de crochê, em que se unia com uma fitinha e se metia um sabonete para pôr as gavetas e dar cheirinho. Depois, quando a Margarida nasceu, despertou o bichinho de querer fazer roupinhas para ela e queria fazer umas coisinhas, uns miminhos e uns bonecos”, contou Selena ao nossoterritório.pt.
Margarida é a filha de Selena que a inspira para que das suas mãos saiam verdadeiras obras de arte. Uma mistura de cor e arte que resulta num vestido único e digno das princesas da Disney.
Foi em janeiro deste ano que ideia de fazer vestidos de princesas surgiu, depois de uma visita à Disneyland Paris e, desde então, são várias as peças transformadas em realidade e que fazem brilhar os olhos de Selena, que as olha com orgulho.
Selena confessa que “é um desafio”, que a obriga a superar-se a cada vestido que faz, mas “há sempre vontade de querer fazer mais”.
O mais, levou Selena a embarcar numa verdadeira aventura da Disney, quando decidiu fazer um vestido, inspirado no Stitch, que é da Disney, mas não usa vestido, para a filha, que tem nove anos.
“O vestido inspirado no Stitch foi o verdadeiro desafio, primeiro porque é um tamanho maior que os outros vestidos e depois, mais importante, é que não tinha nenhuma base para o fazer, porque o Stitch não usa vestido”, contou Selena, lembrando que teve muitas vezes de desmanchar e voltar a fazer.
O resultado, foi um vestido único, onde o azul do Stitch se destaca, criando mais uma obra de arte pelas mãos de Selena.
As linhas, as cores e os materiais são encontrados na Internet, que hoje em dia tem grandes ofertas e, segundo Selena, há marcas portuguesas “muito boas”. É também na Internet que Selena procura novos modelos e novas técnicas, inspirando-se em trabalhos do Brasil, onde a arte do crochê tem grande exposição.
“Em Portugal, o crochê não é muito levado a sério, vão aparecendo alguns trabalhos, nas grandes cidades, mas, embora haja muitas pessoas a fazer, poucas têm a coragem para mostrar”, disse.
Selena Carvalho faz o crochê à portuguesa, único no mundo que é feito ao pescoço e não no dedo. Dedica cerca de uma a duas horas por dia a fazer os trabalhos, que a ajudam a esquecer o dia de trabalho na fábrica.
Para a baionense, a criação dos vestidos é apenas parte de um sonho que gostava de concretizar. Ter um espaço seu, onde pudesse mostrar e vender os seus trabalhos, criar um clube de crochê e fazer grandes trabalhos que pudessem ser expostos na rua, é uma vontade de Selena, que visita locais onde o crochê está em destaque, como os trabalhos em croché que estiveram expostos no centro da cidade do Marco de Canaveses ou uma exposição de imagens gigantes em crochê, em Vila Nova de Cerveira.
“Gostava de fazer em Baião um pouco daquilo que tenho visto. Não estou a dizer para me ajudarem financeiramente, mas gostava de ser desafiada a fazer um grande trabalho, como um boneco de Natal, por exemplo, que pudesse ficar na rua, divulgando esta arte”, confessou.



