O apagão generalizado que ocorreu no passo dia 28 de abril de 2025 expôs de forma inequívoca uma realidade preocupante, Portugal não está preparado para falhas súbitas, simultâneas e generalizadas nas suas infraestruturas críticas.
O país está, de facto, muito vulnerável tanto a falhas internas como externas, demonstrando a insuficiência dos mecanismos de resposta e de contenção. A forte dependência da interligação com a rede elétrica espanhola, aliada à ausência de reservas operacionais internas com capacidade de reação imediata, resultou numa queda drástica no consumo nacional, de 8,16 GW para apenas 0,6 GW, uma redução de 93%, segundo dados da REN.
O colapso iniciou-se com uma forte oscilação da frequência na rede espanhola, que ativou os sistemas automáticos de proteção das centrais, levando a que se desligassem. A rede ibérica ficou isolada da Europa continental às 12h38m, e o consumo elétrico em Espanha caiu abruptamente de 25.184 MW para 12.425 MW, segundo a Red Eléctrica de España.
Portugal dispõe apenas de duas centrais com capacidade de arranque autónomo (Black Start), a central da Tapada do Outeiro (Gondomar) e a central de Castelo de Bode, que foram mobilizadas no processo de reposição. No entanto, como sublinha João Serra, presidente da ACEMEL, estas centrais só atuam após o colapso, no processo de reinício da rede, e não evitam o apagão.
Alguns especialistas sublinham que, se existissem mais centrais termoelétricas (a gás, carvão ou fuel-óleo) em operação no momento da oscilação, o sistema electroprodutor nacional teria maior capacidade de reação e poderia evitar ou mitigar o colapso total que se verificou. Ainda assim, a reposição da rede foi assegurada com recurso às infraestruturas já existentes, mas em alguns locais só depois de 13 horas a eletricidade voltou. A opção por importar energia, comum no âmbito do MIBEL, quando o preço praticado em Espanha é mais competitivo, mostrou-se um fator de risco num sistema sem margem de manobra ou redundância.
Em conclusão, é urgente reavaliar, de forma estrutural, a arquitetura da segurança do sistema electroprodutor nacional. Tal implica investir na resiliência das infraestruturas elétricas, não só através da modernização das redes de transporte e distribuição e do reforço da capacidade de resposta operacional, mas também garantindo uma verdadeira redundância. A atual dependência quase exclusiva da interligação com Espanha deve ser compensada com alternativas viáveis, como a ligação ao Norte de África, nomeadamente a Marrocos, cuja a interconexão tem sido muito debatida nos últimos anos. De forma adicional, torna-se necessário reforçar a capacidade de atuação autónoma em caso de falha generalizada, assegurando que as centrais com capacidade de arranque autónomo (black start) estão funcionalmente disponíveis, testadas e integradas em planos de reposição faseada do sistema. O aumento e a dispersão territorial dessas centrais aumentariam a eficiência e a rapidez para reiniciar a rede, mas de facto, ter estas centrais em prontidão não é barato!
Em paralelo, importa desenvolver mecanismos que permitam a operação da rede nacional em modo ilha, isto é, com capacidade de isolamento automático da rede ibérica em caso de elevada instabilidade, evitando a propagação de oscilações e apagões generalizados (como fez França). Em cenários extremos, esta capacidade de separação preventiva, aliada à autonomia parcial da produção nacional, pode ser a diferença entre uma falha mais localizada e um apagão de âmbito nacional como o que se verificou durante mais de dez horas.
Diogo Miguel Pinto Geógrafo Mestre Riscos, Cidades e Ordenamento do Território Pós-graduado em Sistemas de Informação Geográfica e Direito da Proteção Civil. Investigador do CEGOT e Membro do CEIPC