Eu sei, sente-se cansado.
Cansado porque há um ano atrás cumpriu o seu papel como cidadão português e votou no projeto que mais acreditava, juntando-se a um conjunto de cidadãos que materializou a taxa de abstenção mais baixa desde 1995. Cansado porque acreditou que esse voto nos levaria a uma legislatura de quatro anos, sólida e estável, focada na resolução dos problemas instalados no governo. Cansado porque os desafios do dia a dia são cada vez maiores, o trabalho, a família , os desafios da nossa comunidade e parece que muitas vezes os que falam na televisão, não sentem as suas dores, os seus medos, as suas preocupações. Cansado porque se acha que por um lado devem existir respostas, por outro acha completamente estapafúrdio a devassa pessoal e íntima que muitos políticos têm sofrido.
Cansado, acima de tudo, porque já nem sabe em quem pode acreditar: nos políticos, na comunicação social, nos partidos. Em quem?
Parece que vivemos em loop. Eleições antecipadas, crises políticas, governos que caem sem motivo grave aparente ou até sem motivo nenhum. Parece que estamos presos numa roda que gira sem sair do sítio. No fim do dia, nos dez minutos que lhe sobram no fim de uma dia de trabalho e em que se senta no sofá, questiona-se: Porque me continuo a preocupar? Porque continua a votar? Alguém ouve a minha voz? Alguém está preocupado comigo?
O desencanto é compreensível, mas não pode ser irreversível. A comodidade de não agir, de não fazer parte, de não escolher ou de escolher baseado num cansaço acumulado, seria uma passadeira vermelha para para os que “vendem” soluções rápidas e milagrosas, para os arautos da ética e moralidade. Quando nos afastamos, quando cruzamos os braços, quando dizemos “são todos iguais”, estamos também a ser parte do problema.
Não, não somos todos iguais.
E é por isso mesmo que lhe peço: Não desista. Não desista do seu país, do seu concelho, da sua freguesia. Nos momentos mais difíceis, de maior fragilidade da nossa democracia, temos de ser capazes de nos reinventar, pensar na comunidade e no bem comum e fazermos parte de uma solução.
A política é o mais nobre ato de servir o outro, é o expoente máximo da dedicação a uma comunidade, é a honra de uma vida.
Unamos esforços para continuarmos a trazer os melhores para a causa pública, para os partidos, para a participação.
Unamos esforços para que os políticos estejam dispostos ao escrutínio mas que não baixem a cabeça à devassa pública.
Unamos esforços para que a participação tenha como único e primordial objetivo o BEM COMUM.
Questione, participe, faça parte de uma solução que contribua para o seu país, para o seu concelho e para a sua freguesia.
Eu sei, sente-se cansado, mas não desista: ”Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados.”
Não deixemos o mal triunfar. Estamos juntos nessa luta e por isso, conte comigo.
Ana Raquel Azevedo