Autarca de Mesão Frio lamenta esquecimento do interior que obriga as autarquias a substituir-se ao Estado

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O presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio, Paulo Silva, lamenta “o esquecimento dos sucessivos Governos pelos territórios do interior, obrigando a autarquias a substituir-se às obrigações do Estado em diversas áreas”.

Em entrevista ao nossoterritório.pt, Paulo Silva falou abertamente do seu concelho e dos problemas que “as promessas esquecidas” levantam para as populações.

Na área da saúde, o autarca avança “não está tudo bem no concelho”. “Sempre discordei deste modelo e os Governos têm andado ao contrário. A base são os centros de saúde, que estando bem equipados, até com recursos humanos, a afluência aos hospitais cai drasticamente. É um ganho substancial na saúde e nas pessoas”, frisou.

Atualmente, um habitante de Mesão Frio que faça um corte mais profundo num dedo tem de ir a um hospital regional, a Vila Real ou a Lamego.

“Os médicos são pessoas como as outras, devem ser bem remunerados, porque têm uma responsabilidade acrescida, mas têm que trabalhar no país todo, porque o país também investe na educação deles”, realçou o edil.

Mesão Frio é um concelho do distrito de Vila Real, situado numa das mais belas zonas do Douro. Conta com cerca de 3.600 habitantes, distribuídos por cinco freguesias, numa área de 26,65 quilómetros quadrados.

Um concelho do interior, cujo presidente da autarquia defende “ter os mesmos direitos dos concelhos do litoral”.

“Vejo milhões no Plano de Recuperação e Resiliência e no fim quero ver para onde foi o dinheiro, porque as grandes carências da população não estão a ser atendidas”, disse.

Paulo Silva critica os Governos com “tristeza e amargura”, considerando que “é transversal”. “Quem nos tem governado, tem-nos governado mal. Fez-se muita coisa boa, mas falta muita coisa no interior”.

Mesão Frio tem estratégia local de habitação com mais de habitações “que não há meio de avançar”

Paulo Silva abordou, também, a estratégia local de habitação do concelho, que tem prevista a disponibilização de mais de 40 habitações para famílias carenciadas.

“Temos uma estratégia local de habitação nacional em andamento com 27 mil casas previstas e nós temos lá cerca de 40, para pessoas carenciadas, temos anos de espera. Aquilo não ata nem desata. Estamos prontos para avançar e não há maneira”, lamentou o autarca, alertando:

“Estamos a perder grandes oportunidades, um dia os fundos acabam e depois como é? Há anos que não vejo fazer nada no meu concelho, nem acessibilidades, nem habitação, nem na saúde”.

Sobre a transferência de competências, o presidente da Câmara Municipal de Mesão Frio diz que “só serve para pagar salários e fazer obras”.

“O Estado tinha de fazer obras de milhões e descarregou na Câmara de Mesão Frio. Os orçamentos estão lá, as obras que são precisas fazer são de milhões e nós temos 20 mil euros por ano para essas obras. A autarquia recebe, da transferência de competências, 75 mil euros por mês, para pagar a 26 funcionários e o resto paga a câmara, uma câmara que tem de Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF) de cerca de três milhões de euros”, acrescentou.

O autarca confessa que “é uma revolta diária de quem governa e que está na autarquia a tentar melhorar as coisas”.

“Querem um Douro bonito, com boas vistas para receber o turista, mas em primeiro lugar está quem cá vive. Não posso permitir que o habitante de Mesão Frio seja penalizado por esses regulamentos todos”, vincou.

Câmara de Mesão Frio tem vindo a fazer a manutenção das estradas

A autarquia mesão-friense tem vindo a investir na manutenção das estradas do concelho, alocando entre 150 a 170 mil euros anuais para as obras.

“Andamos a compor algumas vias, aos poucos, porque o Estado, que tinha essa obrigação há 20 anos, nunca mais fez a manutenção de uma estrada”, lamentou o autarca.

Paulo Silva alertou para o “mau estado” da estrada entre Amarante e Mesão Frio, uma estrada de montanha, que precisa de ser retificada.

“Temos uma estrada prometida há 45 anos, o IC 26, e aparece no GPS, mas ela não existe. O que eles designam de IC 26 é a 101, que precisa muito de obras. É a nossa ligação aos grandes centros, que nos permite ficar a 35 minutos do Porto e ajudar a fixar pessoas. Também a eletrificação da Linha do Douro, há anos que andamos nisto. E da Régua para cima? Isto é uma região que está aqui embrulhada”, considera, acrescentando que “é preciso falar de coisas sérias, revolver os problemas das pessoas”.

Ainda na área dos transportes, Paulo Silva salientou que o concelho não tem transportes públicos e tem vindo a colmatar essa falta com várias medidas, entre elas o pagamento de uma linha de transportes para acudir aos alunos da freguesia em Oliveira que custa à autarquia 14 mil euros.

“Mesão Frio tem direitos que não estão a ser respeitados”

O autarca de Mesão Frio diz com frontalidade que “Mesão Frio é igual da Lisboa e ao Porto, tem os mesmos direitos e há direitos que não são respeitados e que estão na Constituição”.

Incomoda-me como a minha terra está e como as pessoas vivem. Temos gente, muita gente, em Mesão Frio, a viver com 300 euros mês, pessoas trabalharam uma vida a vida inteira no campo, no Douro, que hoje tem falta de saúde”, sublinhou.

A câmara e outras instituições do concelho garantem o pão à mesa dessas pessoas, mas a saúde, refere Paulo Silva, terá de ser o Estado, “é a sua obrigação”.

“Os governantes vêm cá, cheios de boas intenções, tomam notas, depois na autoestrada, talvez com a velocidade e com o vento, as notas vão-se soltando, vão ficando pelo caminho e não chegam Lisboa”, ironizou.

Para o autarca há muito mais áreas em que o Estado devia intervir, como a Casa do Douro, cuja direção foi eleita recentemente.

“Houve uma eleição, falou-se, depois disso não se ouviu falar em mais nada. O Governo tem aqui obrigações”, observou.

Sobre as contas da autarquia, Paulo Silva diz que “trabalham para controlar a dívida, porque da dívida a autarquia vai viver sempre”.

“Quem pensar que vem para aqui para controlar as contas, vai ter de cortar tudo, porque hoje em dia nós pagamos tudo, desde os transportes às crianças, material educativo, na ação social, ou seja, são milhares e milhares de euros. As pessoas não fazem ideia. Temos, na parte lúdica, idosos cuja a única refeição de lazer que fazem é connosco, ou no almoço de Natal ou passeio do idoso”, garantiu, dizendo que “gostariam de fazer mais e melhor pela população”.

Paulo Silva termina, vincando que “isto tudo pesa nas contas da autarquia”.

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