Cerca de 15 mil hectares de área arderam nos incêndios que assolaram a região entre segunda e quinta-feira, nos concelhos de Amarante, Baião e Marco de Canaveses.
Os dados foram apresentados na sexta-feira, numa reunião que juntou o eurodeputado Sérgio Humberto aos autarcas e coordenadores de proteção civil daqueles concelhos.
A reunião decorreu na Câmara Municipal de Baião e serviu para que o político percebesse os danos causados pelos incêndios, a opinião de quem esteve no terreno e as sugestões para o futuro.
PRESIDENTE DA CÂMARA DE AMARANTE DIZ QUE “É PRECISO ASSUMIR RESPONSABILIDADES”
O presidente da Câmara Municipal de Amarante, José Luís Gaspar, defendeu que “todos têm de assumir a responsabilidade na questão dos incêndios, desde o Governo às oposições”.
“Temos de dizer que há muitas décadas cometemos sucessivamente os mesmos erros, em vez de usarmos armas de arremesso”, vincou o autarca, que viu cinco hectares do seu concelho arder.
Não foi o município mais fustigado pelos incêndios, mas teve chamas em zonas urbanas, cujas populações não estavam habituadas a ter incêndios, com foi o caso de Telões.
José Luís Gaspar, que agradeceu a presença de Sérgio Humberto no território, disse, ainda, “que os políticos têm de ser arrojados, havendo uma convergência de vontades entre Governo e oposições e tomar as medidas que devem atender ao ordenamento do território, aos meios e à preparação de operacionais para o combate”.
O autarca de Amarante não esqueceu quem esteve no terreno, no combate às chamas, e exaltou os bombeiros, “que foram incansáveis e resilientes, e a população, que percebeu a incapacidade de meios e lutou pelos seus bens”.
“Foi um incêndio de quarta geração, como nunca se viu, não tínhamos capacidade, nem meios para poder combatê-lo. Chegou uma altura em que a questão que estava em cima da mesa era salvar vidas. O resultado é uma área ardida nunca vista, um património que vai demorar décadas a voltar a existir. É lamentável que estejamos a assistir a isto”, observou, garantindo que “está disponível para assumir e dizer aquilo que pensa de muitas coisas que se podem fazer em relação à questão dos incêndios”.
PRESIDENTE DA CÂMARA DE BAIÃO DIZ QUE “SENTIU FALTA DE APOIO”
Avançando que os números no seu concelho “são números dramáticos”, Paulo Pereira rejeitou que “o concelho estivesse abandonado durante os incêndios”, mas admitiu que “sentiram falta de apoios”.
“Não estando a dizer que a culpa é deste ou daquele. Praticamente as primeiras 36 horas contamos com as duas corporações de bombeiros do concelho, e depois vieram algumas da região, mas ao fim de 36 horas eram os mesmos que aqui estavam, uma falta gritante de meios aéreos”, salientou, ressalvando, por outro lado, que “no domingo houve um incêndio numa zona crítica e houve meios disponíveis. Ao fim de umas horas o incêndio estava resolvido”.
No concelho de Baião arderam mais de seis hectares de área verde, quatro casas de primeira habitação, seis casas de primeira habitação ficaram parcialmente destruídas, uma casa de segunda habitação ficou totalmente destruída, uma casa de segunda habitação parcialmente destruída, arderam 46 casas devolutas e veículos, como camiões, tratores e veículos ligeiros.
Culturas de limões, de mirtilos, de vinha também foram fustigadas pelo fogo, inclusive a vinha da Quinta do Mosteiro de Ancede, propriedade da autarquia e de onde resulta o vinho Lagar do Convento.
O presidente da Câmara Municipal de Baião, que acompanhou todas as operações durante os quatro dias mais intensos de incêndios, considerou que “o facto de haver dezenas de incêndios a nível nacional ao mesmo tempo tornou os meios finitos e deve compreender isso”.
“Mas é verdade que, em muitas circunstâncias, e tive oportunidade de acompanhar ao minuto tudo o que se passou, vi o desespero de quem estava a comandar para poder decidir, quando as chamas estavam a chegar a três ou quatro habitações em simultâneo, não havendo meios para elas todas, qual defender primeiro”, sublinhou.
Sobre as famílias que ficaram sem a primeira habitação, Paulo Pereira espera que “a celeridade das reuniões com o Governo se reflita na celeridade da vinda de apoios”, estando o município a acompanhar as diferentes situações.
PRESIDENTE DA CÂMARA DO MARCO DE CANAVESES DIZ QUE “É HORA DE PERCEBER O QUE FALHOU E NÃO DE APONTAR CULPADOS”
No Município do Marco de Canaveses arderam 3,5 hectares e foram registados danos em propriedades agrícolas e florestais.
Os incêndios, naquele concelho, só deixaram a salvo quatro freguesias e, por isso, Cristina Vieira não poupa esforços para agradecer aos bombeiros, aos sapadores florestais, às unidades locais de proteção civil e à população.
“Tivemos 60 operacionais e 11 viaturas durante dias a combater as chamas e nunca foram rendidos”, evidenciou.
A autarca confirmou que “em tempos houve reforço de bombeiros em Marco de Canaveses, desta vez não houve”.
“Mas também temos de ter em consideração que houve várias ignições no concelho e nos concelhos vizinhos em simultâneo, por isso temos esta capacidade de perceber que, mesmo com mais bombeiros, com este tipo de incêndios era muito difícil o combate. Poderiam ter ajudado os meios aéreos”, referiu.
Para a presidente da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, “não é hora de apontar culpados, mas sim de perceber o que falhou e arranjar medidas para que não voltem a ocorrer situações destas”.
Do Governo, as autarquias já receberam o modelo de inquérito para servir de base à inventariação dos danos, um modelo que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte vai supervisionar e vai fazer visitas aos locais afetados juntamente com os autarcas.
Sobre a visita do eurodeputado Sérgio Humberto, Cristina Vieira disse ser “importante que na Europa percebam o que foi este flagelo em Portugal e através do eurodeputado possam fazer chegar mais apoios”.
Na reunião, que contou com a presença dos jornalistas, os autarcas deram conta das críticas que foram feitas aos bombeiros durante os incêndios, lamentando os “comentários incendiários” nas redes sociais.
“Não há respeito hoje em dia pelas instituições. Hoje existem demasiados incendiários e especialistas em incêndios, que vão para as redes sociais criticar tudo e todos. O que aconteceu aqui foi falta de meios para tantos incêndios e as câmaras municipais não podem dar respostas a todas as necessidades”, frisou Cristina Vieira, acrescentando:
“É inadmissível, não há justificação alguma para as críticas aos nossos bombeiros, à GNR, à proteção civil e todos que estiveram no terreno”.
EURODEPUTADO SÉRGIO HUMBERTO CRITICA REORGANIZAÇÃO DA PROTEÇÃO CIVIL
O eurodeputado Sérgio Humberto disse aos jornalistas, no final da reunião com os autarcas de Amarante, Baião e Marco de Canaveses, que a reorganização da proteção civil, realizada há cerca de dois anos, “foi uma má reorganização”.
“Se tivéssemos de outra forma teríamos outros meios e isto não teria tomado estas proporções. É algo que temos de reavaliar depois disto tudo”, considerou o político, justificando a sua posição “com base em técnicos e bombeiros que foi ouvindo”.
Sérgio Humberto defendeu, ainda, que “a reorganização tem de ser pensada e repensada e se calhar transformada para não voltar a acontecer o que aconteceu”.
Questionado sobre possíveis desigualdades na distribuição de meios nos incêndios desta semana, o eurodeputado disse que “todos os recursos foram alocados a determinado território de deixou-se outra parte desprotegida”.
“O presidente da Câmara de Amarante deu conta de que os bombeiros do seu concelho andavam a combater chamas noutros territórios, quando a própria autarquia paga para as Equipas de Intervenção Permanente. Isto não devia acontecer”, defendeu.
Sérgio Humberto vai levar as preocupações e anseios dos autarcas para o Parlamento Europeu, com o objetivo de acionar mecanismos para ajudar estas populações.
“O que aconteceu nestes últimos dias nesta região vai voltar a acontecer, são incêndios de quarta geração, o nosso clima é propenso a isso e temos de tomar medidas para não voltar a acontecer”, salientou, deixando uma palavra de agradecimento aos bombeiros.
“Esta frase não é minha, mas os portugueses são muito rápidos a criticar e são muito lentos a elogiar, por isso quero primeiro elogiar os bombeiros, depois a população, que demonstrou um altruísmo, defendendo o que é o seu património, mas também dos seus vizinhos e pessoas conhecidas”, sublinhou Sérgio Humberto.



